O saudoso jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues sentenciou, em uma crônica esportiva de 1956, que “no dia em que a criatura humana perder a capacidade de admirar, cairá de quatro, para sempre”.
Felizmente, a atividade da observação de aves está aí para impedir que a profecia de nosso dramaturgo se concretize. Afinal, o que poderia causar maior admiração no espírito humano do que poder observar filhotes de pássaros sendo cuidados por seus pais, ainda no ninho?
Na fotografia que inicia esse post vemos um Suiriri (Tyrannus melancholicus) com seus três filhotes no ninho, construído possivelmente em uma Palmeira Betel (Areca Catechu), de origem asiática e ilhas do Pacífico Sul.
Esse registro fotográfico, que tive a sorte de captar de uma das janelas de meu local de trabalho, em pleno centro urbano do Rio de Janeiro, teve enorme repercussão nas redes sociais do blog.
A comoção despertada pela imagem dos filhotes, ainda cegos e desprovidos de penas, perfeitamente alinhados à espera de alimento pela mãe, que também aparece na foto, é uma prova de que o ser humano, há muito "anestesiado" pelo bombardeio diário de notícias catastróficas, é ainda capaz de admirar as coisas belas da vida!
Esse registro fotográfico, que tive a sorte de captar de uma das janelas de meu local de trabalho, em pleno centro urbano do Rio de Janeiro, teve enorme repercussão nas redes sociais do blog.
A comoção despertada pela imagem dos filhotes, ainda cegos e desprovidos de penas, perfeitamente alinhados à espera de alimento pela mãe, que também aparece na foto, é uma prova de que o ser humano, há muito "anestesiado" pelo bombardeio diário de notícias catastróficas, é ainda capaz de admirar as coisas belas da vida!
Na Fanpage do blog, a foto recebeu 374 curtidas e 34 compartilhamentos, enquanto no grupo público Faceaves, dedicado à publicação de fotos e vídeos de aves silvestres em liberdade, alcançou nada menos que 450 curtidas e 53 compartilhamentos, além de um sem-número de comentários.
No Wiki Aves, a maior rede social brasileira de observadores de aves, a foto foi muito bem avaliada e comentada, passando a fazer parte da ilustração dos filhotes da espécie.
A repercussão só não foi tão grande no Instagram do blog, que ainda não possui muitos seguidores (você pode contribuir com a audiência no Instagram marcando suas fotos com a hashtag #avesarvores e seguindo-nos nessa rede social).
Para além da grande receptividade da fotografia junto aos internautas, tive o raro privilégio e prazer de poder acompanhar o cuidado dos filhotes durante ao menos cinco dias ininterruptos, na companhia de outros colegas de trabalho, dentre eles Max Herburgo Junior, autor do site Planeta Macro Foto. Max é autor da foto abaixo, onde apareço "clicando" o Suiriri e seus filhotes, com a cautela recomendada; nesse caso, com a janela entreaberta, para não afugentar as aves (na Fanpage do Planeta Macro Foto no Facebook você pode ver um ótimo registro que Max fez dos filhotes sendo alimentados).
Até o momento foi possível observar os seguintes hábitos da biologia reprodutiva da espécie (apesar da ausência de dimorfismo sexual, estou presumindo que a fêmea é aquela que se mantém a maior parte do tempo com os filhotes no ninhos, como normalmente costuma ocorrer no mundo das aves):
Janela entreaberta para não afugentar as aves (foto: Max Herburgo Junior) |
1 – a fêmea parece encarregada principalmente do cuidado dos filhotes no ninho, protegendo-os do sol intenso e da chuva, além de manter a limpeza do ninho; e
2 – o macho mantém-se mais afastado do ninho, em uma distância que varia de poucos metros a cerca de 50 metros; parece ser o principal responsável pela vigilância e alimentação dos filhotes, embora esses sejam algumas vezes alimentados pela fêmea, especialmente nos momentos de sombra no ninho, quando também se afasta um pouco das crias, talvez para descansar e cuidar da própria alimentação.
Pode-se ver, na foto abaixo, a fêmea com as asas projetadas para o lado, nitidamente protegendo os filhotes dos raios solares.
Já nesse vídeo é possível observar um dos filhotes evacuando e tendo suas fezes imediatamente recolhidas pela mãe com o bico, fato que se repetiu inúmeras vezes ao longo dos dias de observação.
Fêmea de Suiriri (Tyrannus melancholicus) abrigando os filhotes (clique para ampliar) |
Como os filhotes ainda estão no ninho, embora mais crescidos, tentarei acompanhar seu desenvolvimento ao longo desta semana e até que comecem a se aventurar na natureza (a torcida é que nenhum deles caia do ninho nem seja atacado por predadores). Caso consiga novos registros postarei nas redes sociais do blog.
Para finalizar, cito mais uma vez Nelson Rodrigues, para quem “hoje, nós temos tudo: jornal, rádio e televisão. O que nos falta é, justamente, a capacidade de admirar, de cobrir o acontecimento com o nosso espanto”.
Eis aqui, portanto, uma tentativa pessoal de cobrir esse acontecimento com meu espanto e ser, na medida do possível, ainda nas palavras de Nelson, “o repórter que dá ao fato o seu canto específico”.
Eis aqui, portanto, uma tentativa pessoal de cobrir esse acontecimento com meu espanto e ser, na medida do possível, ainda nas palavras de Nelson, “o repórter que dá ao fato o seu canto específico”.
É isso aí pessoal, espero não ter me estendido muito, mas acredito que a ocasião merecia uma postagem mais longa. Como um "até breve", segue outra foto dos filhotes no ninho, em um dos poucos momentos em que a mãe os deixou apenas na companhia do sol.
Filhotes de Suiriri (Tyrannus melancholicus) (clique para ampliar) |
E aí, ficou com vontade de observar aves também? Ainda não? Então sugiro a leitura desse artigo publicado aqui no blog há algumas semanas.
Até a próxima!
Cristiano,
ResponderExcluirAgradeço a companhia e o conhecimento que você compartilhou.
Sua postagem está, simplesmente, excelente.
Parabéns.
Max, eu que agradeço por suas palavras e por dividir a experiência desse momento único dos filhotes no ninho. Abraço!
ExcluirÓtima matéria! Mais uma vez, Parabéns! A reprodução é simplesmente o ápice da existência desses e de todos os seres. Abraços
ResponderExcluirGrande verdade, Fernando. Aliás, a observação de ninhos é também o ápice no fascinante mundo de observação das aves. Agradeço o seu comentário. Abraço!
ExcluirFilho, poucos tem o privilégio de contemplar, de sua cadeira de trabalho e pela janela, um momento único como este! Você é um ser abençoado! Obrigada por dividir este momento conosco.
ResponderExcluirEu que agradeço suas palavras, mãe. Um beijo.
ExcluirInesquecível a experiência de acompanhar o crescimento destas lindas aves de tão perto. Foi um grande presente da natureza! E que este ninho sirva de abrigo para este casal na próxima temporada reprodutiva! Fiquemos atentos ...
ResponderExcluirQue assim seja, Lu! Ficaremos de olho. Obrigado por comentar.
ExcluirExcelente texto!! Adorei as fotos e o vídeo tb!
ResponderExcluirBeijo,
Luísa
Oi Luísa, fico feliz que tenha gostado! Obrigado por sua visita e por deixar aqui sua impressão. Foi um dia muito especial.
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