Fred foi cuidado e alimentado no Dia das Mães (Foto: Dora Rodrigues Hees) |
Qual a probabilidade de um papagaio exótico cortar a tela de proteção de um apartamento, sair voando pela janela, perder-se entre os prédios de uma cidade grande, ir parar em um bairro vizinho e retornar ao local de origem em menos de 3 dias?
Contrariando todas as previsões, foi isso o que aconteceu neste último sábado, véspera do Dia das Mães (9 de maio), com desfecho na segunda-feira (11 de maio), na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Em comum aos protagonistas dessa história, havia o amor pelas aves, cada qual à sua maneira.
Um macho de Lóris-arco-íris (Trichoglossus haematodus), ave exótica originária das Ilhas da Indonésia, Austrália e Nova Guiné, de nome Fred, fugiu na tarde de Sábado (9 de maio) do apartamento de Silvana Oliveira, localizado na Praia de Botafogo, onde vivia com ela e sua família (o marido Wagner, e os filhos Rafael e Sabrina) há pelo menos 4 anos.
Ao perceberem o sumiço da ave a família passou por momentos de grande aflição, mas Silvana, devota de Santo Antônio (famoso por ajudar a encontrar coisas perdidas), não perdeu a fé. Entrou em contato com as Irmãs Clarissas de um Mosteiro no bairro do Jardim Botânico (Clarissa vem de Santa Clara, que foi contemporânea de São Francisco de Assis, padroeiro e protetor dos animais), que imediatamente iniciaram uma corrente de orações para a localização de Fred.
Era véspera do dia das mães e ninguém conseguia dormir. A caçula da família, Sabrina, passou a noite imprimindo cartazes que na manhã seguinte seriam espalhados por vários bairros da Zona Sul, anunciando o sumiço da ave e fornecendo um número de celular para contato. Silvana chegou a ver a filha chorando desesperadamente de madrugada, pois o cartucho da impressora havia esvaziado, e não poderia imprimir mais cartazes até a manhã seguinte.
Enquanto isso, no Domingo de dia das mães (10 de maio), em uma rua bucólica do bairro de Laranjeiras, Dora Rodrigues Hees, integrante do Clube de Observadores de Aves do Rio de Janeiro (COA-RJ) almoçava em seu apartamento com o marido quando ouviu um canto de ave distinto de todos aqueles com que estava habituada. Não teve dúvida, pegou logo sua câmera fotográfica e foi atrás da ave que, após permanecer por alguns instantes no play de seu prédio, voou em direção a um antigo casarão tombado, do outro lado da rua, onde a falecida proprietária ensinava canto lírico. Ex-empregados do antigo casarão colocaram Fred em uma gaiola e lhe deram frutas, pois parecia faminto e assustado.
Dora Rodrigues Hees: o canto de Fred chamou sua atenção Foto: Arquivo pessoal da família Hees |
Casarão tombado em Laranjeiras, onde Fred foi cuidado
Foto: Dora Rodrigues Hees
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De posse da fotografia de Fred, Dora a enviou por e-mail, no domingo à noite, a outros sócios do COA-RJ, pois estava preocupada com as condições da ave, que se encontrava devidamente anilhada. Os observadores mais experientes ajudaram a identificar a espécie e ressaltaram que, embora nada se compare à ave livre na natureza, não se deve libertar uma ave que tenha nascido e sido criada em cativeiro, já que não é capaz de sobreviver em vida livre.
Na manhã de Segunda-feira (11 de maio), João Sérgio Barros, outro sócio do COA-RJ, avistou um dos cartazes impressos com uma foto de Fred, no bairro do Flamengo. Anotou o número do celular e o informou a Dora que, em contato com Silvana, viabilizou a entrega de Fred para seus donos.
João Sérgio Barros (sócio do COA-RJ) e seu filho Foto: Arquivo pessoal da família Barros |
Silvana e sua família ficaram muito felizes com o desfecho da história e prometeram associar-se ao COA-RJ.
Fred de volta ao lar: família novamente reunida Foto: Arquivo pessoal da família Oliveira |
Como retribuição a Dora, entregaram-lhe um buquê de flores e duas toalhas de mão bordadas com lindos pássaros, acompanhadas de um cartão de agradecimento.
Ainda na segunda-feira, às 18h, foi realizada uma Missa de Ação de Graças, celebrada pelo padre Marcos com as freiras do Colégio da Imaculada Conceição, no bairro de Botafogo.
Essa é uma história de fé e de amor às aves, e, como muitas outras histórias, só permanecerá viva enquanto estiver sendo contada. Sua publicação nesse site é uma tentativa de eternizá-la.
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Que sorte deu Fred ! Ele não fugiu. Foi passear e se perdeu, voando nesta cidade agressiva a todos. Não encontrou de qual janela havia partido, dentre centenas a seu redor. Graças à rede social e ao interesse pela natureza pode ser localizado, e voltar ao aconchego do lar, pois não é ave brasileira. Cristiano, esta é uma história bem interessante. Felicidade a todos que dela participaram !
ResponderExcluirDe fato Plínio, uma história bem interessante e com final feliz! Obrigado por comentar.
ExcluirQue bela história de amor aos pássaros. Quanta sensibilidade da Sra. Dora que conseguiu diferenciar um canto de um pássaro, no meio de todos os outros, que estava acostumada ouvir. A preocupação de todos os envolvidos em devolver o pássaro à sua família. Muito lindo! Parabéns a todos!
ResponderExcluirÉ verdade Cristiane, uma grande sensibilidade de todos os envolvidos. Obrigado por deixar aqui suas palavras.
ExcluirVocê traduziu com notável sensibilidade o acontecimento. Este caso é um singelo, mas cativante, exemplo da afeição entre homens e aves! Parabéns.
ResponderExcluirAgradeço suas generosas palavras Fernando e fico muito feliz de ver que essa história o cativou. Como diz um ditado atribuído a Sólon, "as palavras somente chegam ao coração quando saem do coração".
ExcluirUma história com final feliz, agradecemos de coração a todos que nos ajudaram.
ResponderExcluirObrigada
Silvana , Família e Fred
Silvana, o seu depoimento aqui é um grande prestígio para o blog. Saiba que todos os amantes das aves estão tão felizes quanto você com o desfecho dessa história. Muita paz e felicidade a você, à sua família e ao Fred.
ExcluirLida história do Fred ! Que felicidade este reencontro ! Parabéns ao COA RJ, responsável por proporcionar a reintegração do pássaro a família !
ResponderExcluirVerdade, os sócios do COA RJ tiveram papel fundamental nessa história.
ExcluirDepois de ouvi-la durante um almoço, não pude deixar de conferir essa linda e inspiradora história. São fatos como esse que nos fazem acreditar na solidariedade humana. Parabéns pelo blog, ele realmente transmite a paixão que você tem sobre o tema!!
ResponderExcluirObrigado Guilherme, por sua palavras. E volte sempre!
ExcluirAdorei constatar como o amor à natureza ainda vive latente no coração de tantos e como mobilizou várias pessoas para que o lindo Fred pudesse retornar ao seu lar. Como um adolescente curioso ele quis conhecer o mundo.
ResponderExcluirUm conselho: levem-no de vez em quando a passear (com gaiola e tudo) como se faz aqui onde moro - às vezes até de bicicleta... é uma graça!
Obrigado por seu comentário, Marilena. Essa história é realmente cativante e emocionou a todos. Seja bem-vinda ao Aves & Árvores
ExcluirA história é linda porque mostra a motivação que vem do coração - ela é a força que fez e faz dar certo!
ResponderExcluirSem dúvida, Dirce. Obrigado por deixar suas impressões aqui.
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