Faz tempo pensava em escrever algumas linhas sobre o filme "KES" (1969), do venerado cineasta britânico Ken Loach, que conta a comovente história de Billy Casper, um menino filho de pais separados e vítima de um irmão violento, que passa a treinar um falcão por conta própria, seguindo as orientações de um livro furtado de uma loja.
Lembro-me com precisão do dia em que tive o primeiro contato com essa verdadeira obra-prima do cinema. Mudava os canais da televisão de maneira despretensiosa, quando deparei com a cena do menino-protagonista, mostrando a um professor interessado e aos colegas de turma como treinava o falcão, a que deu o nome de KES.
De tão verossímil, essa cena já valeria pelo filme inteiro, mas como não havia assistido a película na íntegra, decidi comprar a mídia para poder fazê-lo. Foi o que aconteceu na semana seguinte, tão logo a encomenda chegou. E qual não foi minha surpresa ao notar que aquela cena que vi era apenas uma dentre inúmeras outras de grande sensibilidade.
Uma delas me chamou bastante atenção. A certa altura do filme, aquele mesmo professor a quem Billy Casper falou sobre a arte da falcoaria sensibiliza-se com a história de Billy e o acompanha até um grande descampado para vê-lo com o falcão. Na mais poética cena do longa-metragem, estabelece-se um diálogo memorável entre o garoto e o professor, que é enfatizado pelo silêncio do falcão.
KES é um filme extremamente profundo e comovente. Trata da realidade social de uma família pobre e de como isso repercute na vida de um jovem em formação. Retrata, de forma sublime, a relação de confiança e a amizade respeitosa, construídas entre um menino e um falcão, e que se estabelece, até certo ponto, como uma “fuga poética” ao ambiente social e familiar que cercam o garoto.
Dá próxima vez que estiver em dúvida sobre qual filme assistir, lembre-se de Billy Casper e seu falcão KES. Certamente não irá se arrepender!
Ainda estou longe de conhecer boa parte das aves, especialmente falcões, por isso não consegui identificar a espécie do falcão KES que estrela o filme (seria um Falco columbaris?). Se alguém puder identificá-lo ficaria muito agradecido (basta utilizar o campo para comentários, logo abaixo desse artigo).
Observação Final
Ainda estou longe de conhecer boa parte das aves, especialmente falcões, por isso não consegui identificar a espécie do falcão KES que estrela o filme (seria um Falco columbaris?). Se alguém puder identificá-lo ficaria muito agradecido (basta utilizar o campo para comentários, logo abaixo desse artigo).
"acho que ela me faz um favor deixando observá-la"
ResponderExcluirDiria que esta frase dita pela personagem de Billy Casper, é profundamente bela e que valeu pelo filme inteiro!
E o que diriam então os Observadores de Aves??
Certamente concordariam, mãe. Obrigado por comentar.
ExcluirÓtima resenha meu amigo!
ResponderExcluirDescobriu qual é a sp?
Obrigado, João Sérgio! O Jayme Aranha deu uma ótima explicação sobre a espécie e esse diálogo do filme. Confira logo abaixo. Abraço!
ExcluirOi Cristiano.
ResponderExcluirO menino apelida a ave de "KES" pois é um Kestrel, Falco tinnunculus.
(https://www.rspb.org.uk/birds-and-wildlife/bird-and-wildlife-guides/bird-a-z/k/kestrel/).
Quanto ao trecho que você transcreve, logo no início, há uma curta frase de dificílima tradução. Estranhei a que você fez: "Eles acompanham". O original é: "They're manned". Não cabe inteiramente o sentido literal (tripulados, operados por humanos). Alguns traduzem por "são como os humanos". Outros sugerem a virilidade. O que o menino queria dizer permanece para mim um mistério. Talvez se os falcões podem ser "manned", então os falcoeiros são "hawked". É uma simbiose recíproca.
Oi Jayme, agradeço imensamente pelas valiosas informações sobre a espécie e esse diálogo da película! Quanto à tradução, na verdade utilizei a tradução do filme, sem me atentar para o que você falou. Fica aqui seu valioso registro. Obrigado mais uma vez!
ExcluirO filme traz o sotaque e o dialeto do local onde fora filmada a película. Ken Loach, socialista, apresenta um filme para brasileiro ver, invés de ser pra inglês ver, já que a realidade de muitos países se assemelham. Quero dizer que os dramas vivenciados pelas crianças das classes menos favorecidas são muito parecidos, seja no Irã, no Brasil ou na Inglaterra, nações de três continentes diferentes; sistemas educacionais em decadência, maus tratos em quase todos os ambientes sociais, e uma incrível ausência do Estado. A falta de atenção e afeto mostram aos jovens desses filmes um mundo muito cruel. Ainda estou muito emocionado, assim como nos primeiros dias após contemplar 'Eu, Daniel Blake'. Ken Loach e Abbas Kiarostami, premiado diretor iraniano, falecido há pouco, além de trabalharem juntos em 'Tickets', têm muito em comum: o emprego de atores jovens que não eram atores, e à época assim tratados em seus ambientes escolares.
ResponderExcluirEstou muito feliz de poder compartilhar neste espaço minhas impressões. O cinema nos marca profundamente. Nunca mais me esquecerei de KES e das pessoas envolvidas nesse belíssimo trabalho.
Um forte abraço do amigo,
Oscar Henrique
Toledo/PR
Olá, Oscar! A felicidade é minha de poder contar com seu sensível comentário aqui no site. Suas reflexões são extremamente sinceras e sobretudo muito humanas! Meu muito obrigado.
ExcluirAssisti essa obra prima há uns 40 anos, adoraria rever mas não sei onde encontro.
ResponderExcluirCreio que consiga localizar utilizando o buscador do Google. Obrigado por comentar.
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